segunda-feira, 14 de setembro de 2009

INDIVIDUAÇÃO
Zeus, senhor supremo do Olimpo e dos homens, foi mutilado por Tifão, esta mutilação tem um caráter mítico, é uma prova de iniciação, Zeus irá se recuperar e chamamos esta mutilação de ordem ritual . No caso de Édipo sua mutilação é de ordem social e psicológica, Édipo jamais irá se recuperar, como já foi dito, é o homem existencialmente marcado, enquanto Zeus recupera-se inteiramente e renasce pronto para iniciar seu reinado absoluto e atemporal. No caso de Édipo é o homem
socialmente vacilante, seu poder é de ordem temporal, Édipo ao saber a verdade fura os olhos, qual o significado simbólico? Simbólica e miticamente a Polis grega é sempre regida pela paridade, ou seja, seu número é sempre par, porque o homem deve ter dois pés para se apoiar, dois braços para trabalhar e dois olhos para governar e olhar a realidade de seu reino. Édipo ao se mutilar transgride gravemente a ordem social, o herói se individualiza de modo perigoso, por isto, ele será expulso da Polis e passa viver a margem da sociedade. Enquanto, Zeus depois de sua mutilação e recuperação, que é de ordem transcendental, torna-se único, diferente, impar, singular e isto agrada aos deuses porque a ordem do Olimpo é impar.
Impar, o fora do comum, realça o sagrado, a mutilação de Zeus o prepara para ser um, para ser rei. Simbolicamente Édipo ao se individualizar também busca o sagrado, banido da Polis não pode mais reinar, porque se individualizou, rompeu com a Polis, sua entrada no Hades, representa uma deferência especial a Édipo porque ele cumpriu se destino tornou-se UM, passou pelos seus ritos de passagem e compreendeu o destino que os deuses tinham preparado para ele .

Lisiane Porto de Vasconcellos.

Mitologia

ÉDIPO A VERDADE

E assim lá vai ele, como um velho, entra no palácio e encontra Jocasta morta, enforcada. Ele afrouxa corda de seu pescoço, tira suas vestes e os alfinetes. Com os próprios alfinetes fura os olhos.
Morte e desonra, na casa dos Labdácidas.
Édipo, o mais miserável dos homens, concluí diante de sua dor insuportável que a morte não é o suficiente para ele.
Édipo chama Creonte e diz que qualquer castigo que viesse para ele seria insuficiente, porém a cidade e as pessoas, não deveriam pagar pelos seus crimes. E como ele mesmo tinha prometido a todos ele achou o assassino de Laio e agora a cidade deve bani-lo para que fique livre das mazelas, dos miasmas que assolam a cidade. Pede a Creontes que tome conta da cidade enquanto os filhos não possuem idade suficiente para governar e, que permita, com que suas filhas venham com ele assim como, o sepultamento de Jocasta. Mas, Creontes, primeiro pede para consultar o Oráculo antes de quaisquer decisão, Édipo não aceita e insiste que lhe seja atendido seus pedidos. Creontes com pena, acaba cedendo.


Édipo em Colono

Édipo, conduzido por Antígona chega ao Monte das Eumênides, que fica em Atenas, lá pede para falar com Teseu, rei de Atenas, e ele é atendido.
Teseu promete a Édipo que fará tudo que é possível para ajudá-lo. Édipo quer ajuda, mas não ajuda de posses, e sim proteção. Pois Creonte e seus filhos quer levá-lo de volta a Tebas, não por piedade, mas porque Tebas está em guerra por demanda de poder, e de acordo com a nova profecia do Oráculo quem tiver o apoio de Édipo sairá vencedor e governará Tebas.

Teseu promete que ninguém o levará, mas pede a Édipo que escute, pelo menos o que Creonte e seus dois filhos têm a dizer.

Édipo escuta e amaldiçoa os filhos, pois nenhum deles o procurou antes ou se preocupou com ele. Mesmo assim, querem levá-lo a força, mas Teseu interfere e diz: que ninguém irá levá-lo a não ser que queiram entrar em guerra com ele. Assim vão embora. Édipo agradece a Teseu e diz que chegou a sua hora.

Comentário: quando Édipo chega finalmente ao monte consagrado as Eumênides, significa que depois de anos sua consciência reconhece suas culpa e agora seu arrependimento é verdadeiro esta livre para partir para o Hades.

Lisiane Porto de Vasconcellos

Mitologia

Édipo e a Filosofia


Édipo , sujeito do conhecimento, vive sua vida entre doxa e episteme .
No mito reconhecemos que na caverna seu mundo é perfeito. Édipo dominou a episteme quando decifrou o enigma da Esfinge .
Édipo é o sujeito que em seu mundo sensível conhece as coisas e tem poder sobre elas.
Seu Ser e mundo é como Parmênides descreveu é o mundo das aparências, das ilusões, aquilo que conhece como verdade é falso.
Sua existência por ser enganadora esta sempre lhe testando, suas vitórias são sempre temporárias, é o devir de Heráclito .
Édipo, somos todos nós quando não olhamos o mundo, como ele é verdadeiramente. Nossa existência busca, nas ciências, nas religiões, nossa essência, porque nossa razão não consegue perceber . Assim nossa ética é sempre regulada pelas ideologias . Também somos como Édipo vemos só aquilo que é sensível aos nossos olhos mas somos cegos naquilo que nos é essencial. Sofremos como ele porque não sabemos quem somos e de onde viemos.
E como ele trocamos fácil, nossas idéias e ideais, por algo que conforte o nosso ego, nós ocupamos a vida a resolver problemas banais, e nos sentimos como ele, heróis .
Como ele herdamos uma culpa, porque como ele sempre somos feridos na alma, desta ferida, que uns chamam alienação, outros de recalque. Assim como Édipo nos apoiamos na nossa terceira perna, para uns vaidade, para outros medo . Assim como ele pensamos que salvamos a Polis, quando exercemos nosso direito como cidadãos (matamos os monstros que, segundo os gregos, simbolizam as perversões dos governantes perversos ) mas logo a Polis esta em perigo de novo e assim vai...
Até que um dia como ele somos convidados a sair da caverna e conhecer verdadeiramente o que esta oculto e buscar a verdade, ir atrás de nossa verdadeira essência, ele foi, uns não irão, eu quero ir, mas a busca é sempre longa e difícil . Fora da caverna não existe o conforto da dúvida, só a dura certeza, também não existe recompensa, nem prêmio, só a realidade . Muitos irão voltar para contar as grandes novidades, assim como Zoroastro voltou, uns vão dizer que era louco, outros não acreditarão nele, e como o herói nietzschiano, estamos destinados a solidão. Mas assim é a filosofia, solitária naquilo que ela tem de mais democrático que é a possibilidade de cada um de nós ser herói de si mesmo.
Édipo enfim encontrou-se, viu sua essência verdadeira, descobriu de onde veio e escolheu o seu fim.
E aí vocês dirão isto é filosofia, eu responderei, e quem disse que não é?

Lisiane Porto de Vasconcellos .